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COVID 19
RENASCIMENTO TROCOU ALGUMAS PALAVRAS COM O DR. SÉRGIO ALEIXO DA USF TERRAS DE AZURARA
Sempre com o objetivo de informar da melhor forma os seus leitores, Renascimento, trocou algumas palavras com o Coordenador da USF Terras de Azurara, Dr. Sérgio Aleixo, a quem desde já agradecemos a disponibilidade, sobre a atual situação e como esta tem sido contornada nesta Unidade de Saúde.
De referir que, da mesma forma contatamos a Coordenadora da USF de Mangualde, Drª. Martina Rocha, mas até ao fecho deste edição não obtivemos qualquer resposta.
REN. - Como é a situação atual do concelho no que respeita ao COVID19? Assim, em relação aos casos diagnosticados com a infeção/COVID-19, como atua a Unidade de Saúde? Como procede na sua orientação?
DR. SÉRGIO ALEIXO - Numa fase de mitigação, a nível nacional como no concelho, a situação é de disseminação na comunidade e, portanto, preocupante. Em Mangualde há que destacar o caso particular do Lar de S. José, em Santiago de Cassurrães, que contribuiu muito para o número de casos confirmados, e infelizmente com vítimas a lamentar.
Na USF Terras de Azurara, nos casos suspeitos ou confirmados de COVID-19, 80% dos utentes têm sintomas ligeiros ou moderados e estarão em isolamento no domicílio. A estes utentes a equipa estabelece contactos telefónicos regulares de forma a avaliar o seu quadro clínico até à resolução, e se necessário, orienta-os para observação na Área Dedicada ao Covid (ADC) de Mangualde ou do Serviço de Urgência do Hospital de Viseu.

REN. - De um momento para o outro, temos a imagem que todas as outras patologias deixaram de ter lugar ou de existir dando lugar ao COVID19, neste sentido, como se está a desenrolar o funcionamento da Unidade de Saúde?
DR. SÉRGIO ALEIXO - A USF Terras de Azurara está a assegurar os serviços mínimos assistenciais, nos quais se incluem a vigilância de grávidas, crianças até aos 2 anos de idade, o cumprimento do Plano Nacional de Vacinação, as necessidades na Saúde da Mulher, tratamentos de enfermagem inadiáveis e resposta às situações de doença aguda. Obviamente nestas últimas, as pessoas com sintomas suspeitos de infeção de SARS-Cov-2, deverão ser observadas nas ADC, para minimizar o risco de contágio de outros utentes e dos profissionais de saúde. Em todas as outras situações agudas, e que assim o exijam, naturalmente os utentes são observados e orientados. As outras doenças não foram “canceladas”. Mas é fundamental que as pessoas compreendam que tudo o que possa ser resolvido à distância, através de emails e contactos telefónicos, deverá ser privilegiado nesta fase.

REN. - E os mais idosos? Não será fácil explicar a certas pessoas com mais idade que não podem deslocar-se à Unidade?
DR. SÉRGIO ALEIXO - Obviamente há exceções, mas no geral os utentes têm sido exemplares. A informação nos meios de comunicação social, a pressão dos familiares e o próprio receio pela sua idade e doenças, no geral faz com que os idosos percebam a necessidade do isolamento e de só se deslocarem à Unidade em caso de necessidade. E se na grande maioria dos casos é um ótimo indicador, em determinadas situações em que se precisava de obter o resultado de uma determinada análise ou exame, é desafiante convencê-los a fazê-lo.

REN. - Outra área preocupante. Os cuidados de saúde a doentes acamados no domicílio. Como estão a proceder atualmente?
DR. SÉRGIO ALEIXO - A USF Terras de Azurara, dentro das suas particularidades e no contexto atual, tem mantido a realização de cuidados domiciliários, sobretudo de tratamentos de pensos inadiáveis. Para minimizar o risco de contágio pelos profissionais, a equipa de enfermagem tem procurado potenciar os familiares/cuidadores, que assim o queiram e consigam, deixando material e fazendo ensinos. Nos casos dos domicílios médicos, mais uma vez os contactos telefónicos determinam a avaliação da necessidade e relação risco-benefício da observação presencial.

REN. - Outras considerações que pretenda deixar, que julgue uteis e importantes para a sensibilização da sociedade.
DR. SÉRGIO ALEIXO - Normalmente as epidemias evoluem sem que haja vacinas ou imunidade de grupo, já sabemos. A partir do momento em que entrarmos na “descida da curva”, com o número de casos identificados e de mortes a diminuir, a (falsa) sensação de resolução, esperança e ânsia das pessoas e dos governos de regressarem à normalidade e recuperarem as economias nacionais e individuais, levará a que se levantem as medidas restritivas.
Mas não tenham dúvidas, muito provavelmente haverá uma segunda vaga. E sem os devidos cuidados, numa curva que poderá até ser superior à primeira.
Devemos entender que o vírus SARS-Cov-2 veio para ficar durante muito tempo. Os casos positivos, serão tratados com medicação eficaz que, entretanto, se descubra. A prevenção será com imunidade de grupo (se tivermos a sorte do vírus sofrer poucas mutações) ou vacinação sazonal, como a vacina da gripe. Com sorte, será erradicado com uma vacina “atómica” - como por exemplo a varíola - a incluir em planos nacionais de vacinação, a longo prazo.
Dito isto, sem histerismos e pessimismos, entendam que a Covid-19 não será eliminada com o levantamento do Estado de Emergência ou o ânimo do decréscimo de casos. Teremos todos de nos proteger durante muito tempo e adaptar a uma “nova normalidade”, com uso de máscaras, distanciamento social e etiqueta respiratória.